As técnicas não são verdades absolutas, mas pontos de partidas, caminhos facilitadores para que se descobrir qual é a melhor técnica para aquele momento, aquele trabalho, com o equipamento que você tem e a sala onde você está. Mixar é tão rico que costumamos dizer “mixagem não se termina, se abandona.”
1 Entender realmente que é mix ou mixagem
A palavra Mix traduzida quer dizer Misturar e em português foi chamado de Mixagem, o ato de misturar os sons: ao vivo, com banda, em estúdio, em produção de música eletrônica, no cinema, nas trilhas dos filmes, efeitos de sonoplastia e onde 2 ou mais sons forem combinados.
O profissional dedicado a MIX é chamado de engenheiro de mixagem, e é encarregado de misturar os sons captados de maneira coerente e harmoniosa, pode ser baseado em técnicas, em gosto pessoal, em uma proposta de trabalho e até misturando ambos, o importante é saber seu papel e função. Por exemplo: em um CD existem processos de composição, arranjos, pré-produção, gravação, edição, mixagem, pré masterização, e por fim masterização (em maioria). Cada processo pode ou não, ser realizado pelo mesmo profissional, como é comum hoje a “época dos home estúdios”. Quem mixa tem a responsabilidade de pegar todo material captado e organizá-los em uma música equilibrada e harmoniosa: em volumes, timbres, equalização, espacialidade e profundidade, tudo para que a mensagem por trás daquele trabalho seja melhor definida e apresentada, como se estivesse lapidando um diamante. Daí parte o papel fundamental do nosso próximo item.
2 Escutar e estudar sobre áudio
Recebendo a missão de mixar uma banda, cantor, orquestra, espetáculo teatral, música gravada ou qualquer trabalho de mixagem, seja ele de pequeno ou de grande porte, me preocupo primeiro em entender a proposta do som, hoje é muito comum por influência mercadológica, o público e até técnicos de som terem em sua mente sons qualificados com o adjetivo “bom”, mas, será que é “bom” para outras pessoas também? Será que o som “bom” faz parte do estilo? É realmente o que o artista e a produção gostariam?
Nossas referências e gostos pessoais podem trazer sugestões à nossa memória auditiva sobre o que subjetivamente é “bom” e o que é “ruim”, para um determinado instrumento ou para a composição de vários instrumentos como, por exemplo, um naipe de violinos. A partir disto, podemos entrar em uma infinita discussão sobre o que é certo, o que é belo, assim como segundo as discussões de Kant e Baumgarten cada um pode ter seu ponto de vista estético físico, ou estético interior e emocionalmente do que é belo. Sendo assim, faz-se necessário entender a proposta daquela mixagem, se é comercial e padrão ou se existem propostas artísticas conceituais por trás da escolha dos instrumentos, dos timbres, dos volumes e prioridades dos elementos a serem trabalhados.
Conhecer o estilo do artista é importante, por exemplo: em um evento cristão de João Alexandre e banda, começamos a passar o som, um dos técnicos do local apontou um barulho muito estranho e perguntou se eu não estava ouvindo. Imediatamente comecei a procurar o ruído e não o identifiquei, então, em algumas tentativas percebi que o barulho era proveniente de um feltro com bolinhas colocado no prato de condução da bateria, que fazem parte dos estilos de samba, jazz e outros. Expliquei para o técnico local e ele, evidenciando a sua falta de conhecimento, disse: “Horrível isso, coloca um gate nesse barulho”. A falta de vocabulário sonoro pode te levar a acreditar que sons característicos de um estilo é insensato e feio.
Vamos Praticar: Tire um tempo para ouvir músicas de gêneros diferentes, comece pelos estilos mais tradicionais e populares: como samba, rock, reggae, forró, clássicas e etc. Siga o seguinte método que irá mudar sua percepção e maneira de enxergar a música e até mesmo o mundo:
Passo 1 – Ouça 5 músicas de estilos e bandas diferentes e se atente também ao ano em que foram gravadas, anote os instrumentos que compõem as músicas com bastante atenção. Na primeira vez, você pode ter dúvidas, mas quando não conseguir identificar algum instrumento, peça ajuda, assim perceberá que cada estilo tem suas características de formação de instrumentos e vozes.
Após anotar perceba que cada estilo coloca os seus elementos e instrumentos em planos de volume e prioridade diferentes. Procure ouvir sempre em uma boa referência, um bom fone já ajuda, ouça as músicas quantas vezes julgar necessário e depois, siga para próxima etapa.
Passo 2 – Agora, em frente ao instrumento anotado, escreva de 0 a 10, sendo 0 para nenhuma prioridade em volume e destaque e 10 para a maior prioridade, fazendo isto, você perceberá as diferenças entre cada estilo. Para ajudar, ouça em um nível não muito alto, por exemplo: em um volume como ouviria música em casa sem incomodar os vizinhos e em um nível muito baixo, de maneira a perceber apenas os sons que receberam a maior prioridade na música. Essa é uma técnica muito usada por grandes engenheiros de mixagem do mundo todo, porque em nível muito baixo os sons mais fracos na mixagem tendem a desaparecer e os mais altos a revelar suas verdadeiras posições no plano de mixagem.
Passo 3 – Melhoramos nossa percepção dos volumes e intensidades, agora em suas anotações escreva também os elementos ou instrumentos mais comuns entre os estilos, por exemplo: se quase todos têm bateria, anote as peças que a compõem em cada estilo como bumbo, caixa, chimbal e etc. Se na maioria dos estilos tem 1 voz principal, tome nota disso, e também anote os instrumentos que somente aquele estilo X ou Y tem em particular, como por exemplo: sanfona, sax cajon, entre outros.
Passo 4 – Agora dentro dos instrumentos, isole cada peça ou elemento tocado, e quando perceber os instrumentos que soarem mais grave coloque a letra G na frente, os mais médios a letra M, e os mais agudos a letra A, tome nota e entenda que há diferenças de frequências para cada peça ou instrumento dentro dos estilos, perceba também que a mesma peça tem grave em um estilo e agudo em outro. Por exemplo: No passo 3 de nosso estudo, você notou e anotou quais peças compõe a bateria em quase todos os estilos: bumbo, caixa, tons, pratos e etc. Agora anote as diferenças que existem entre os sons do Bumbo e se é mais grave, médio ou agudo, fazendo isto para cada peça ou elemento da bateria, e siga em todos instrumentos anotados. No começo pode parecer difícil, mas a prática, a persistência e a repetição irá elevar sua percepção rapidamente, e melhorar o nível da qualidade em suas mixagens mais do que qualquer outra técnica.
Seguindo os passos tenho certeza que você nunca mais ouvirá uma música ou conhecerá um estilo da mesma maneira, com os mesmos ouvidos. Praticando as técnicas sua percepção certamente irá ser transformada.
3 Saber que uma boa captação ajuda muito
Muitos acham que “o cara da mix” é o profissional que arruma e resolve tudo. Se acontece um barulho, um ruído, e até mesmo se o cantor grita, canta baixo (longe do microfone) ou até mesmo desafina, a culpa é do técnico que está na mesa de som. Se for gravação ousam dizer “ele dá um jeito depois”. Em estúdio, as ferramentas que temos hoje ajudam a resolver muitos problemas, até fazer muitos milagres, mas com toda certeza captar o melhor áudio, da melhor maneira possível, melhora muito o resultado final da mixagem, seja de um CD ou de shows e sons ao vivo.
A captação ao vivo ou gravada começa no músico, ele faz a diferença no resultado da captação e, por consequência, de uma boa mixagem. Os músicos que tocam e cantam pensando no arranjo e no conjunto enviam o som pronto, faltando poucos detalhes.
Conheça também os equipamentos que você trabalha, conheça e estude técnicas de microfonação e captação para ter um o som o mais pronto possível, lembrando que além dos microfones ou captadores, os cabos, suportes, pre-amp, conversores e o ambiente onde você vai captar o som também influenciam muito, evitando vazamentos desnecessários e sons indesejados.
Vamos Praticar: Comece testando e conhecendo os equipamentos que você vai usar, depois mude de microfone e seus posicionamentos: mais perto, mais longe, inclinado para cima, para baixo e note que o timbre é alterado a cada mudança. O resultado pode ser melhor ou pior, você poderá identificar o que melhor se encaixa dentro do que você precisa.
Dica Plus: Quem ouve esquece, quem lê talvez se lembre, quem anota lembra ou consulta, mas quem pratica aprende.
Guilherme Fahl trabalha como coordenador de cursos do CCEIA, professor de Home Studio na EMT (Escola de Música e Tecnologia) e professor da WG Musical School. Além de aplicar diversos cursos e workshops de áudio em igrejas de todo o Brasil, também é palestrante da Church Tech Expo.
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